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4 de nov. de 2013

Happy Birthday

Não era exatamente o peso da idade. Não era muita, só vinte anos, porém aquilo tudo me assustou. Naquele dia em especial o canto de “Happy Birthday” parecia infinito e soavam com trombetas no meu ouvido. Ficou pior quando a música terminou sem a segunda parte que diz “com quem será?”. Era o que mais queria ouvir. Não pelo fato do amor porque nesse já nem acredito mais. Mas com quem será que aquelas pessoas todas gostariam de estar quando tiveram (terão) a minha idade? Sempre pensei nas respostas que os outros dariam às perguntas que nos fazem.

A maioria dos mais velhos diziam frases prontas revelando como foi bom os vinte anos de vida. Não entendo, acho que nunca entendi. Nunca fui dessas que quis completar maior idade, dirigir um carro e mostrar o documento de identidade para comprovar que podia ser levada presa. Na verdade a sensação de que não vou viver muito sempre me rondou e não imaginava ter vinte anos.  Sempre achei comemorações de aniversários dispensáveis, este ano, foi fatal. Todas aquelas velas em cima do bolo, a família, os amigos, penetras. Um aglomerado de rostos sorrindo ansiosamente a espera de um discurso antes da entrega do primeiro pedaço de bolo.

Sempre faço desfeitas nesse instante, desde criança. Há coisas que não mudaram em mim e eu nunca gostei de tradicionalismos. Poderia colocar metade daqueles convidados para fora. Os que fazem a diferença são poucos. O pior de tudo (ou melhor, não sei) é que insistem em organizar surpresas ao maior estilo. Doces e todas as guloseimas que eu adoro. Poderiam fazer tudo isso, sem as palmas e os abraços com beijos melados de “Felicidades”. Sou estranha, não sei receber esses mimos.

Parece inútil chorar o aniversário. Devia estar contente por mais um ano de vida e com conquistas que realmente me tornam uma pessoa bem melhor. Mas tenho medo de ter que encarar a vida. Até antes disso eu poderia chorar deitada no colo da minha mãe quando fosse ofendida no trabalho. Tinha o aval de fazer tudo errado porque tinha acabado de conquistar a liberdade e não sabia o que fazer com todo o leque de opções. Poderia gritar na rua e por a culpa na inconsequência juvenil. Podia sair sem grana e sem carona e simplesmente ligar de madrugada para meu pai me buscar. Agora não tenho nada disso. A idade tem seu peso. É quase um padrão ter uma carteira de motorista aos vinte anos, não importa se você paga faculdade ou não liga para isso. 

Ouvi que eu era diferente das garotas de vinte anos por nunca ter tido um relacionamento sério. Confesso que fiquei chateada, porque um namoro não me torna mais séria. Ao contrário, sempre gostei dos maus e é por isso que nunca encarei por aliança de compromisso. Mas eu nunca ter mudado meus status nos perfis de internet me qualifica como mal amada ou seca. Não me falta amor, me falta coragem. Não quero nem aceitar que eu já cresci e não posso mais me enterrar na areia da praia. Não me levo a sério quem dirá um afeto com o outro. É mais fácil chorar e aceitar que tudo não passa de um romance adolescente do que enxergar que o próximo pode ser seu marido. 

A maioria das pessoas podem escolher se querem assumir a idade ou preferem viver como adolescentes mimados. Eu não tive essa opção, tive que crescer antes do que imaginava. Antes dos vinte e deve ser por isso que me assusta tanto ter tal idade. Agora me é devido  ter responsabilidades, cautela e precisão nas respostas que o dia a dia me obriga a dar, há dois anos atrás eu fazia tudo isso mas abraçada com o escudo de que “amadureci precocemente”. Parece maluco e é. É idiota também e infantil, mas é como eu me sinto, boba. Dar um trégua me parece impossível. 

O jogo mal começou e eu já quero parar. Na realidade, queria ser café-com-leite. Estar dentro e fora ao mesmo tempo. Poder desligar a luz, ligar o fone e esperar o dia acabar. Infelizmente, não dá. O sol bate na minha janela e é o tempo me chamando para ir trabalhar. Firme, como os adultos fazem.

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