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7 de jan. de 2014

Cheios de "Nhem nhem nhem"

Dia 23 de dezembro de 2013 meu namorado me levou ao Shopping para eu experimentar o presente que ele queria me dar de Natal. Não queria comprar para depois ter que ficar fazendo troca. Então fomos até o Shopping. Eu estava de chinelo, short jeans, regata e um coque bem alto na cabeça do tipo que você condena que trabalhou o dia todo e foi lá só para comer, comprar e ir dormir. Ele estava de bermuda, tênis, uma camiseta e dois capacetes na mão. Andamos por lá algum tempo até que entramos em uma loja de calçado. 

As vendedoras, algumas estavam sentadas na escada que dá pro estoque da loja, outras nos sofás destinados aos clientes e outras duas com cara de poucos amigos fechando o caixa. Cena típica de se ver em um Shopping no dia 23 de dezembro às 22h. Mas o que me chamou atenção foi quando eu entrei na loja com jeito de “pobre” nenhuma das moças maquiadas e com uniformes, sem dúvida, mais bonito que a roupa que eu usava, se mexeu para me atender. 


Ficaram olhando, quando uma se dignou chegar em nós e soltar o tradicional: “Posso te ajudar”. Disse o que procurava, ela me mostrou algumas sem dar um sorriso e foi ao estoque buscar os pares que escolhi experimentar. Foi bem rápido e ela pisando duro com cara de que nos xingava muito por dentro. Meu namorado fez algumas piadinhas do tipo trash e recebeu um olhar tirando toda a graça do que ele tinha falado. 

Calcei, gostei e quando ele se dirigiu ao caixa para pagar um par de sapato de quase R$200 reais ouviu a frase: “Em quantas vezes você vai querer dividir?” Ele retrucou: “Nenhuma. Qual o preço?”  Instantaneamente um sorriso encantado brotou do rosto de todas as vendedoras que até segundos atrás nos olhavam com desdenho. Pagamos. Em um gesto de extrema gentileza a vendedora levou a sacola com o meu calçado até a porta e meu namorado soltou a última piadinha sem graça e ela, para minha surpresa maior, sorriu. Sorriu muito como não tinha feito nas únicas três coisas que ela já havia falado. Fomos embora, eu queria ir ao Facebook falar que eu comprei o sapato só porque tinha gostado muito, mas preferi não. Não tinha porque. Eu comprei, ele pagou, ela vendeu. Estava tudo certo.

Mas como se não bastasse os dias se passaram e fomos passar a virada do ano em uma casa de shows. A festa de lá é considerada o maior Réveillon de Uberaba e região. O ingresso é vendido a R$150,00 e abriga a “hight society” uberabense que não viajou no Ano Novo.

Fomos em dois casais. Eu havia pedido uma mesa para nós (era mista, mas como fui uma das últimas a ir lá procurar um espaço abriram uma para nós quatro) a número 25. Quando chegamos lá, havia uma mulher dizendo que sua mesa estava errada. Que a sua mesa era a número 25 e que essa estava com 11 cadeiras e a dela, com cinco cadeiras estava com o numero de 24. Logo para evitar o transtorno já que a minha mesa também estava errada eu disse que era apenas trocar de lugar e que nós poderíamos fazer isso. 

Quando estava quase tudo resolvido chegou uma funcionária da casa e explicou que iriam ter que mudar de lugar porque a mesa da mulher estava realmente errada. Então eu questionei, porque a minha também estava e ouvi: “Ela deve ter pagado a diferença da mesa fechada. Olhando para ela dá pra perceber que ela tem dinheiro. Não sei muito bem falar, mas é cheia de “nhem nhem nhem”. 

A funcionaria me disse isso sem nem perguntar meu nome, muito menos quanto eu tinha pagado para estar ali. E só porque eu estava com meu cabelo cacheado super armado como sempre uso e uma rasteirinha porque não queria cansar meus pés, e talvez, não quero apelar, mas exceto meu namorado todos do meu grupo éramos negros, ela disse sem pudor algum que a vantagem era da barraqueira porque nós não tínhamos “cara” de quem pode pagar uma mesa fechada.

A festa para mim começou a fazer diferença a partir desse momento. Porque com cara ou não, não é qualquer um que pode pagar por um Ano Novo desses. Pergunta para as pessoas mais carentes quanto elas podem gastar em um Réveillon. Muitas delas nem comemoram. E mais uma vez me indignei com a cidade do Zebu. Pela segunda vez fui maltratada por não ter “cara de quem pode pagar”. Mas ah! Eu sou cheia de “nhem nhem nhem”...


Um comentário:

  1. Passo por isso seeeeempre. A primeira vez em que me dei conta desse tipo de preconceito, foi aos 10 anos, quando entrei na (falecida) HP, depois de peregrinar por várias lojas atrás de um short de lycra para a educação física. Estava com o uniforme escolar e fui recebida com um "o que você quer aqui?" ao que, na inocência de criança assustada, respondi que queria comprar um short. A cara dela mudou, ficou mais simpática e me vendeu o short. Saí de lá com medo. Nunca mais entrei na HP.

    Infelizmente, devo lhe informar que seu namorado continuará sendo melhor tratado que você. Assim como eu, você ainda verá os vendedores, discretamente ignorarem você, para dar toda atenção ao homem branco ao seu lado. É odioso isso, ridículo.

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