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31 de out. de 2013

Lisbeth

Lisbeth era passível de erro, tanto que gostava de seu nome. Sempre achei que seria melhor Audrey pra lembrar sempre a bonequinha de luxo. Lisbeth de certa forma era assim, o luxo do pior que poderia ser. Mas adorava seu nome e eu a respeitava pois me lembrava a personagem de Stieg Larsson, a ficção que foi criada num momento de genialidade. 

Lisbeth Salander sempre significou para mim o ideal de mulher, sem fronteiras e medos e foi por esse motivo que me encanto por essa que a escrevo. Lisbeth certa vez chegou no ateliê desses pintores de esquina, vestida de roupão e pediu um retrato. Ficou de lingerie, deitou sensualmente no sofá e completou: “vamos, está esperando o quê?”. Sem dizer nada, o artista perplexo começou seu desenho totalmente lírico e eu ouso afirmar que era, no mínimo, tendencioso. 


Nada a impressionava, de certo modo a minha Lisbeth só queria se sentir melhor. Era excessivamente bonita e aquilo a incomodava. Tinha problemas com a humanidade. Lisbeth preferia um bom porre e um café amargo pela manhã do que coisas como o amor. Em contrapartida adorava sexo e se justificava dizendo que isso era apenas instintivo, como os gatos, mais parece uma briga e é dolorido quando não se esta bem alongada.

Ela desprezava a ternura e dizia que os homens só servem para as noites. Durante o dia são animais descartáveis e medíocres que só pensam em trabalho e cerveja. Pelo menos a noite se tornam úteis, são essenciais e decisivos para seu humor na próxima manhã.
  
Ela não gostava de sentir – ou fingia. Amar é como uma ferida aberta e ela não curtia exposição. Salvo aquelas de fotografias contemporâneas e pinturas de ícones da moda e da música. Não tinha medidas, não tinha controle e por isso era tão maltratada. E nem é que seja pela vida, porque esta sempre foi generosa. Mas maltratada por seus pensamentos. 

Lisbeth, às vezes, dormia nos becos ou até sentada em meio-fios, na maioria das vezes em frente a casa dos seus pais. Era para implicar, ela gostava de mandar o mundo se fuder com todo o dinheiro que tinha, mas se arrependia assim que entrava e não tinha uma pila pra comprar cigarro. Ela era assim, vivia entre sua comodidade e seu excesso de autenticidade. 

Certas coisas não combinam. Quem depende de outras pessoas não pode mandar o mundo se ferrar ou ser autêntico. Quem depende está condicionado a viver ao mandos e obediências dos outros. E os outros? Como adoram tripudiar!

As pessoas a desrespeitavam e a chamavam de louca. E ela era. Vivia sem grana, quando tinha torrava com suas bebidas e seu cabelo e em dias normais dormia com um cachorro.  Não que ela seja zoófila, mas acho que acredita mais na pureza da alma dos animais do que na humana. Gosta de instintos e odeia não saber lidar com eles. Acha vida uma droga que de fato é. 

Na verdade desejava a morte e ao mesmo tempo temia dar adeus sem “brisar” mais uma vez. Ela nunca foi corajosa e sofria por saber disso.  Lisbeth um dia morreu e descobriu que a morte é uma dádiva da vida.

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