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21 de dez. de 2013

Depois do depois

A gente sempre deixa as coisas para depois. Esse texto mesmo eu tinha agendado para escrever no último dia de aula e isso já faz uma semana. Mas é que depois meu amigo faleceu e depois eu fiquei doente e depois eu fiquei esperando o depois pra poder escrever. 

Os outros - quem não escreve – sempre falam: “Ah! Você não teve inspiração né?” e eu só balanço a cabeça de forma positiva e depois abaixo como um altista envergonhado. Não existe talento para escrever mas coragem de se trancar em um lugar qualquer com uma boa bebida, no meu caso leite gelado, e deixar os sentimentos chegarem.

Isso aí, coragem! A gente nunca tem coragem de sentir, pensar e constatar: “Putz, estou fudido”. Sabe, no mundo dos sentimentos estamos sempre abaixo da linha da pobreza, abaixo da linha do vergonhoso e a gente acha que é feliz. É mais ou menos assim: eu tenho um relacionamento bem resolvido,  ganhei um aumento no trabalho, meu chefe reclama menos de mim e minha família me acha bem sucedido. É isso e pronto. Compramos um carro, uma roupa nova, vamos para praia nas férias, usamos havaianas, gastamos fortuna no cabeleireiro, as unhas bem feitas ou a camiseta caríssima para malhar. Eu sou uma pessoa completa. Pareço um babaca, ouço funk ostentação e já estou bem parecido com o ‘rei do camarote’.

Porem, não é bem assim. Sentir é quando você fica bêbado e começa a falar um monte de merda, dá pra quem quer mesmo sendo casado, vomita no pé do amigo e depois chora e dorme em posição fetal.
Sabe porque você sempre chora após um porre? Porque você sente, assim como eu quando sento com o meu leite e escrevo com as mãos quase sempre trêmulas e digito em uma velocidade fenomenal. Penso mais rápido do que consigo me movimentar.  Sentir é pegar seu cigarrinho e um bom vinho e escrever sobre pássaros azuis – ‘blue birds’ – em um quarto mofado e fedorento. Sentir é dormir em posição fetal após umas doses de wíske. 

Você ainda se sente o ‘phodão’, o incrível babaca do sistema “mate quem estiver ganhando de você na corrida”? Não. Você vai voltar com esses pensamentos quando dormir mais de seis horas seguidas e acordar se justificando: ‘Estou com vergonha, mas sou filho de Deus, quem nunca néh...”

Mesmo sendo gente da pior categoria sentimental, assim como você, nunca entendi porque sempre deixamos para depois, sempre empurramos com a barriga sendo que tudo é uma merda. Porque temos a ideologia do sistema e não a nossa  A de fazer o que gostamos seja em qualquer área ou em todas as áreas do contexto da vida humana.

Somos fracos, não gostamos de sentir. Colocamos o nome de amor em um coisa que faz sorrir, de desejo no que é proibido e de tristeza nas nossas fraquezas. 

A gente inventa tantos fantasmas e sonhamos tantos heróis. Mas falta ser corajoso. O soco mais forte não é dos grandes super heróis. O grito mais alto não é dos animais maiores. O olhar mais criterioso não é de quem tem o olho maior e o ouvido mais potente não é dos duendes.  Mas depois falamos sobre isso.

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